Mídia, para que te quero!

Olá leitor! Como foi o seu dia hoje? Acordou e já ligou a TV no telejornal favorito enquanto se arrumava? Folheou o jornal enquanto tomava o café? Ouviu as notícias no rádio a caminho do trabalho? Checou seu e-mail e redes sociais assim que chegou?

Parece exagero, mas milhões de pessoas no mundo todo fazem isso diariamente. Antes das 10hrs da manhã, já foram bombardeados com todos os tipos de crises, maravilhas, acidentes, promoções, desgraças e novidades disponíveis no mercado midiático. Na verdade, vou reformular a minha frase. Não apenas parece, mas É exagero. Já sei o que você está pensando, leitor: “Mas eu só dou uma olhada rápida”, “só checo as notícias principais” ou, a pior de todas, “assisto TV/leio o jornal para relaxar”. O resultado não poderia ser mais óbvio: STRESS.

O nosso cérebro está constantemente assimilando e processando informações, quase como uma secretária faz com a mesa do chefe. Analisa, decida o que deve ser guardado e aonde, e o que deve ser jogado fora. Se você passa o dia inteiro jogando novas informações, não dando espaço para o cérebro trabalhar, irá sobrecarregar o sistema que as processa. A minha conclusão foi tirada após anos observando amigos e colegas de trabalho que se auto-intitulavam “informados”. Notei que eram geralmente pessoas ansiosas, estressadas, que apresentavam mais frequentemente do que outras pessoas, dificuldades para fazerem escolhas e tomarem decisões. Acredito que isso seja conseqüência da falta de reflexão, aquele momento que temos com nós mesmos, quando escutamos nossa voz interior, aprendemos mais sobre nós mesmos e compreendemos melhor o que se passa dentro de nós.

A coisa piora ainda mais para os que dormem com a TV ligada, exterminando assim seus poucos minutos restantes de paz. Esses são, em minha opinião, os mais problemáticos, fugindo descaradamente de seus problemas sem sequer olharem para trás. Afinal, todo mundo sabe que é quando a cabeça deita no travesseiro que a “lista de pendências, culpas, dívidas & outros temas sôfregos” começa a fazer download na cabecinha. Para os mais acomodados, é mais fácil colocar bem baixinho num programa que esteja tratando de um tema desinteressante, apresentado por um host que tenha uma voz bem monótona. Por sinal, creio que muitos canais já tenham se dedicado a produzir programas com esse propósito, dados a quantidade de temas desinteressantes por eles abordados.

E o que acontece quando você não tem tempo para refletir e tirar as suas próprias conclusões? As pessoas que trabalham na mídia podem lhe suprir desta carência: compre idéias já formadas! Isso mesmo, no maior estilo “Leve 3 – Pague 2”! O resultado é o que presenciamos diariamente, uma legião de papagaios com manias de conspiração. E não é assim tão simples, não são todos iguais. As pessoas costumam se dividir em classes, como os intelectuais que lêem o jornal A, os liberais que lêem os jornal B, ou os pobre-coitados que lêem o jornal C. A maneira como a maioria das pessoas demonstram as sua opiniões e se comportam em um debate é tão previsível para mim, que chego às vezes a perder o interesse bem no meio da conversa. E olha que eu ADORO um debate! Como pode isso ser saudável? Como podem grandes massas acreditarem na mesma coisa, e só existirem 2 ou 3 opiniões diferentes sobre um mesmo assunto, quando na verdade, a variedade pode ser infinita? Quem disse que você deve ser contra ou favor algo, quando você também pode apresentar novos aspectos daquele tema, que nunca foram abordados?

Mas agora o seu dia de trabalho acabou, leitor. Você vai para casa e, finalmente, pode relaxar. Assistir a novela? Programa de esportes? Alguns seriados bem idiotas, para ficar em estado de anestesia cerebral?  Ou talvez uma sessãozinha de internet? Por quantas horas você fará isso e, no final, você se sentirá realmente mais relaxado? Pergunte-se quantas horas por dia você gasta com a mídia, questione se isso realmente lhe faz bem, e tenho certeza que encontrará a resposta dentro de você, sem que precise procurar no Google.

Eu comecei a me afastar da televisão lentamente. O primeiro passo que tomei, aos 19 anos, foi cortar completamente a Rede Globo da minha “dieta”. Não que eu assistisse ao canal com muita freqüência ou acompanhasse programas, mas dessa vez a coisa tinha se radicalizado. O boicote logo se estendeu a todas as emissoras de TV aberta, que em um momento de paranóia, me pareceram fazerem parte de uma sociedade secreta cujo objetivo era reduzir a massa encefálica da população brasileira para 2%. Com exceção da TV Cultura.

Daí para eu começar a me invocar com os canais americanos imbecilóides da TV paga, foi só um passo. Passei os últimos anos da minha vida televisiva restringindo-me a 6 canais de documentários, que tratavam de temas como ciência, história, comportamento, entre outros. Cortei a televisão da minha vida definitivamente quando percebi que tinha que assistir a um documentário sobre os hábitos sexuais dos macacos das montanhas do Tibet, quando queria mesmo conhecer a história da invenção da escrita.

Eu sou grande adepta da internet, gosto bastante. Com ela pude restaurar a minha liberdade, ou seja, eu mesma podia decidir o que queria assistir. Continuo firme e forte com a minha obsessão por documentários e assisto vários todos os dias, o que me deixa um pouco estressada (provando um pouco do meu próprio veneno). Tenho Facebook, mas achava que ele tomava mais tempo do meu dia do que eu queria. Sempre acabava dando uma olhada nas atualizações dos meus amigos (se é que uma pessoa pode ter 518 amigos), e clicando em coisas imbecis só porque os headlines haviam despertado a minha curiosidade.

Escuto com frequência teorias conspiratórias sobre os cuidados que se deve tomar ao divulgar informações, postar fotos ou expor seus sentimentos na rede. Aparentemente, existem pessoas mal-intencionadas coletando tais informações para usar contra você em algum momento oportuno!  Mas eu, particularmente, creio que o maior perigo não é o que você expõe, mas sim o que você absorve. Por isso, eliminei quase 300 pessoas das quais não me lembrava bem, tinha conhecido apenas uma vez ou que não falavam comigo há anos, e cancelei a assinatura para receber as atualizações de todos os contatos que sobraram. Hoje, a única coisa que aparece na página inicial do meu Facebook são as coisas que eu mesma posto (talk about narcisism…)

Mas não pense que estou sendo hipócrita, usando a mídia para falar mal da mídia. Reconheço a importância da conquista da liberdade de imprensa, e o quanto isso contribuiu para o avanço intelectual da sociedade como um todo. Eu mesma devo muito do que sei às pessoas que se dedicaram em oferecer as informações que eu buscava, e sem elas as coisas seriam bem mais complicadas.

Temos no mercado uma variada paleta de profissionais sérios, que se interessam em levar conteúdo de qualidade para os seus consumidores. São diversos os periódicos que, ao dirigirem-se para um ramo específico, suprem a necessidade de minorias culturais, enriquecendo assim seu conteúdo. Temos muitas vozes se levantando contra o sistema, e trazendo reconhecimento para temas alternativos e pouco abordados no main-stream. Mas é preciso selecionar quase cirurgicamente os que tem qualidade dos que não tem, e essa tarefa não é das mais fáceis. Nosso cérebro é altamente sugestionável (e, acredite, ele precisa ser assim para sobrevivermos), fazendo com que seja extremamente difícil reconhecer quando estamos sendo manipulados. E ainda sim, a velha história do “eu consigo filtrar só o que é bom” continua mais viva do que nunca. Só no meu círculo social, já a ouvi diversas vezes. Julgar que você consegue fazer isso diariamente e sem esforço não é apenas arrogante, como também falso.

A partir do momento em que a mídia, que foi feita para fornecer-lhe as ferramentas e peças para que você construa o seu barco, vende-lhe o barco inteiro, sem que você possa opinar na cor, tamanho e modelo, os papéis foram invertidos. Não é mais você quem usa a mídia, e sim a mídia quem usa você.

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  1. #1 por Dani Marino em 22/11/2011 - 22:58

    Não tem o “botãozinho” de curtir? rs…Você está certíssima, Raquel. Uma vez fui à uma palestra da Marcia Tiburi e coloquei exatamente a mesma questão que você espõe aqui, dizendo que embora muita gente tenha TV a cabo, a grande maioria continua assistindo um único canal. Questionei a razão pela qual as pessoas continuavam consumindo algo que criticavam tanto, quando tinham outras opções e sabe qual foi a resposta dela? ” A opção é NÃO ter TV”. Mas eu não sou exemplo, porque não assisto quase TV, mas também não tenholido nenhum livro. Tenho “consumido” blogs com mais frequência do que qualquer outra coisa e ao menos, o seu pode ser considerado um veículo d eutilidade pública! 🙂 Parabéns!

  2. #2 por interrompemosaprogramacao em 24/04/2012 - 19:17

    Reblogged this on Interrompemos@Programaçãoe comentado:

    Repostando o texto que abriu o blog, hoje com mais leitores. Enjoy 🙂

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