6 páginas e a Economia do Ócio Feminino

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Consumismo

Olá pessoal!

Estou de volta, dessa vez com um vídeo ao invés de um texto. Foi a primeira vez que fiz um vídeo e deu tudo certo, com exceção do fato de que eu não sei editar, o som está muito baixo e o YouTube comeu o meu texto aos 7:32 minutos…

Espero fazer vídeos melhores no futuro…e espero que gostem!

Interrompemos@Programação

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Repostando o texto que abriu o blog, hoje com mais leitores. Enjoy 🙂

Interrompemos@Programação

Olá leitor! Como foi o seu dia hoje? Acordou e já ligou a TV no telejornal favorito enquanto se arrumava? Folheou o jornal enquanto tomava o café? Ouviu as notícias no rádio a caminho do trabalho? Checou seu e-mail e redes sociais assim que chegou?

Parece exagero, mas milhões de pessoas no mundo todo fazem isso diariamente. Antes das 10hrs da manhã, já foram bombardeados com todos os tipos de crises, maravilhas, acidentes, promoções, desgraças e novidades disponíveis no mercado midiático. Na verdade, vou reformular a minha frase. Não apenas parece, mas É exagero. Já sei o que você está pensando, leitor: “Mas eu só dou uma olhada rápida”, “só checo as notícias principais” ou, a pior de todas, “assisto TV/leio o jornal para relaxar”. O resultado não poderia ser mais óbvio: STRESS.

O nosso cérebro está constantemente assimilando e processando informações, quase como uma secretária faz com a mesa…

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Um fim à guerra dos sexos

Olá, queridos leitores! Gostaria de agradecer a presença de vocês aqui no blog, mesmo com os posts inconstantes e imprevisíveis. Os estudos estão sugando cada gota do meu tempo e da minha disposição, mas farei o possível para mantê-lo, pois é muito importante poder comunicar as minhas idéias com um público interessante e interessado. Ontem mesmo cheguei da Itália, aonde fui visitar a minha mamãe que não via há um ano, e vim correndo para o computador para desenvolver as idéias que tive durante a viagem. Porém, depois de uma viagem longa e estressante, tudo o que eu não consegui fazer foi escrever. Acabei no Youtube, assistindo um vídeo de Stand-Up Comedy que um amigo me enviou, jurando que eu ia morrer de rir. No fim, assisti há uns 20 vídeos diferentes desta nova geração de comediantes brasileiros, que está fazendo um sucesso danado. Já no terceiro vídeo, me dei conta de que um dos grandes carros-chefe desta nova geração são as piadinhas sexistas. São as mais aplaudidas pela galera e, se fossem retiradas dos seus números, não sobraria muita risada.

Lembrando-me de conversas anteriores com amigos e lendo comentários postados nos vídeos, deparei-me com a constante afirmação de que as tais piadinhas são assim, tão engraçadas, porque representam a realidade. Aparentemente, todos nós nos identificamos com aquilo e não dá para não rir. Eu fiquei com aquilo na cabeça…será que é mesmo assim? Pois então nós mulheres somos todas gralhas estridentes cujos únicos objetivos são encontrar um marido rico e comprar sapatos novos. Os homens, meras amebas acéfalas que passam o dia todo assistindo futebol e arrotando cerveja, sempre com uma ereção.

Inocente eu, que achava que, em pleno 2012, conviveríamos em harmonia, aproveitando-nos de nossas mútuas capacidades e compreendendo a beleza e a perfeição da natureza, que assim nos fez. Ao invés disso, o jornalismo mistificador com as suas matérias “10 coisas que ele/ela pensam de você”, reforça a falsa idéia de que o sexo oposto é incompreensível. O que é mesmo incompreensível é como as pessoas ainda caem nessa. Já sabemos que a estrutura cerebral dos homens e das mulheres se desenvolveu de maneira diferente durante o processo evolutivo, como resultado da divisão de tarefas. Os homens possuem de 10 a 20 mil mais neurônios do que as mulheres, porém são formadas mais sinapses (conexões) entre os neurônios no cérebro feminino. Com relação aos hemisférios esquerdo e direito, há também algo interessante a ser observado: o homem possui maior habilidade de utilizar cada um separadamente, sendo capaz de realizar tarefas relacionadas a cada hemisfério de maneira mais eficiente (coisas como noção de tempo e espaço, concentração,senso de direção). Já as mulheres não usam cada hemisfério assim tão bem quanto os homens, porém conseguem comunicar ambos os hemisférios de maneira mais eficiente que o cérebro masculino, o que aumenta a nossa capacidade de comunicação, compreensão e interpretação de sentimentos, bem como a desenvoltura em situações sociais.

Chega de chamar os homens de canalhas e mentirosos. O cara te comeu e não ligou mais? Pois era só isso que ele queria. Se você acha que isso é suficiente para ser canalha, você está enganada. Ok, talvez não seja a coisa mais legal de se fazer, ele poderia ter sido mais sutil e pensando nos seus sentimentos, blábláblá. Podia. Mas a verdade é que os homens são movidos por uma força sexual ininterrupta que precisa ser liberada, e não dá pra ficar fazendo xororô com cada mina, simplesmente não dá tempo. Se ele fizer isso, não conseguirá liberar a sua energia sexual suficientemente, portanto, ele guarda os seus carinhos só para as merecedoras. O problema é que os pobres dos homens foram fadados com essa energia sem fim, que começa na puberdade e acaba quando eles morrem. Enquanto isso, nós mulheres temos apenas apetite sexual quando estamos férteis, ou seja, mais ou menos dos 15 aos 55, e apenas durante um período específico do mês. Se você está se perguntando se é daí que se origina a famosa infidelidade masculina, eu diria que é. O cara quer comer e a mina não quer dar, então ele procura outra.   

Falando na tal infidelidade, a questão que vem à cabeça de muitas mulheres quando descobrem a infidelidade de seu par é “Como ele pôde?”. Para nós, é difícil entender como o homem consegue simplesmente fazer uma coisa errada assim, na cara dura. O que venho observando em minha curta vida é que os homens possuem uma habilidade que nós mulheres não possuímos: conviver com o incorreto, com o ilegal. Nós não conseguimos fazer isso. Isso não quer dizer que não fazemos nada de errado, apenas que inventamos desculpas e mentimos para nós mesmas, para conseguirmos conviver com aquilo sem que a nossa própria consciência nos torture. Se um homem trai a mulher, ele fez porque deu vontade e esconde o quanto puder. Se a mulher trai o homem, ela diz que é porque ele aprontou semana passada, não tem a tratado direito ultimamente e às vezes até conta para o cara, pois assim se livra logo de qualquer resquício de culpa. No fim, ambos traíram. Outra coisa que me irrita é a constante pentelhância feminina com relação ao fato de que o namorado olhou para aquela gostosa que passou. Chega né, gente? Os homens são visuais, eles vêem algo bonito e olham, pronto. Não significa que ele te acha gorda, não te ama mais ou é infiel, significa apenas que ele achou a mulher bonita. Você se pergunta se ele não poderia ao menos disfarçar ou tentar não fazer isso na sua frente, e eu lhe respondo: ele já faz isso. Garanto-lhe que ele olha muito mais quando você não está por perto. Portanto, deixe-o em paz. Já fiz isso com um namorado e deu super certo.

Estou cansada de ser tratada como interesseira. Os homens nem percebem mais que tratam as mulheres assim, e as próprias mulheres nem mais se dão conta disto. Esta falácia de que a mulherada só sai com cara que tem carro já deu no saco. Isso não passa de uma má-interpretação das bravas, e precisa ser esclarecida antes que vire realidade. Pois sim, de tanto falarem que homem é canalha e mulher quer dinheiro, os mais influenciáveis acabam assumindo o papel que lhes foi dado, e a única esperança que sobra é que estas antas acabem juntas. No processo evolutivo, as nossas ancestrais buscavam homens que as trouxessem a caça e protegessem a sua caverna de qualquer perigo exterior. Isso escreveu em nosso código genético de que a busca por um parceiro está diretamente ligada ao grau de segurança que ele nos traz. Portanto, o que as mulheres (decentes) inconscientemente buscam em seus parceiros não é o dinheiro que eles têm, mas sim uma situação profissional segura, que irá garantir o sustento da sua família. E, não preciso nem dizer, aqueles que possuem uma carreira mais sólida são os mesmo que tem mais grana, carros, etc. É apenas uma coincidência. Para verificar isto, basta prestar atenção às famosas exceções, que estão por todos os lados. Você irá se deparar com muitas mulheres felizes com os seus parceiros que vivem duros, mas que são trabalhadores, o que nos traz a segurança de que ele irá nos proteger e assegurar o nosso bem-estar em uma possível crise. Continue olhando e irá encontrar também muitas que trocaram o namorado playboy, que não fazia porra nenhum a não ser sugar a grana do papai (que não era pouca, por sinal) por um homem com menos grana, mas que estuda ou trabalha seriamente.

Sim, nós falamos muito. E alto. A área da fala na mulher é claramente mais desenvolvida do que a do homem, e isto já pode ser observado em bebês. Além do mais, fomos presenteadas com a capacidade de argumentar, o que nos faz ganhar qualquer discussão, até quando estamos erradas. Porém, imagine só se estes seres falantes e argumentadores não existissem, o que seria da humanidade? Para entendermos como seria um mundo aonde as habilidades masculinas fossem mais importantes, basta olharmos para trás. Guerras e conflitos. Veja bem, eu não estou aqui para chamar os homens de brutamontes sanguinolentos. Porém, os homens se desenvolveram fisicamente para serem máquinas mortais, possuem maior agressividade, mais força física e menos empatia. Sem estas habilidades, os homens não poderiam ter sido os habilidosos caçadores que eram e nós provavelmente não existiríamos hoje.

Em minha opinião, e, por favor, seja cuidadoso ao tomar isto como verdade, eu considero esta a origem do machismo e da subjugação da mulher. Quando a escassez de alimentos e o territorialismo eram fatores determinantes, as habilidades masculinas eram mesmo mais importantes do que as femininas. Se não havia comida para todos, a compaixão feminina de dividir o seu alimento com todas as aldeias teria nos levado à extinção. Portanto, acho natural que as mulheres, nesta época, tenham sido consideradas incompetentes e reduzidas aos seus papéis primários de reprodução e criação dos filhos, e sendo colocada a serviço dos gloriosos homens, salvadores da pátria. Em nossa geração atual, aonde a argumentação e a intuição tem um importante papel na sociedade, caminhamos lentamente para um universo mais feminino. Eu considerarei ideal a sociedade que saberá utilizar as capacidades de ambos os sexos de maneira equilibrada e funcional, já que um não é melhor do que o outro.

Lembro-me uma vez de ter assistido um documentário sobre o sexo dos cérebros e um dos entrevistados apresentou uma analogia interessantíssima: imaginem um quarto escuro, totalmente escuro. O cérebro masculino, ao entrar no quarto, cria um foco de luz intensa e ilumina um ponto à sua frente com clareza, e o restante do quarto permanece escuro. Sempre quando ele precisa ir a algum lugar ou pegar alguma coisa, basta focar a luz naquele ponto. O cérebro feminino entra no quarto e uma luz fraquinha ilumina o quarto todo, deixando-o numa suave penumbra. Ela não consegue ver nada com tanta clareza e exatidão como o cérebro masculino, porém, consegue ver tudo ao mesmo tempo e possui uma idéia mais ampla do que há no quarto.

É claro que as coisas não são sempre como as descrevi acima. Somos regidos por muitas mais coisas do que o instinto, tais como a moral, a ética e os valores culturais. Lentamente alteramos os nossos cérebros para se adaptar à nossa vida atual, aonde faz todo o sentido que uma senhora de idade queira ter uma vida sexual ativa, que um homem seja sensível e que uma mulher que trabalha não se interesse pelo o que o homem tem a oferecer. Porém, a nossa herança genética demorou milhares de anos para se formar e não irá embora assim, tão de repente. Ainda bem. Honestamente, não consigo imaginar um time mais completo e bem-sucedido do que um homem e uma mulher quando se juntam. As nossas habilidades se complementam e nos tornam invencíveis contra qualquer mal, pois não há problema que um time destes não consiga resolver. Está mais do que na hora de deixarmos de sermos inimigos para sermos aliados.

E eu, quanta arrogância, achando que posso por um fim a guerra dos sexos ao postar um texto neste humilde blog. Mas com a sua ajuda, podemos divulgá-lo ao nosso círculo de amigos e, quem sabe, ao menos não precisar mais escutar as tais piadinhas…

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Um encontro entre a Psicologia e a Psicodelia

Mais um texto escrito para a Revista Pittacos. Quem gosta de assuntos polêmicos não pode deixar de conferir 😉

http://revistapittacos.org/2012/03/26/psicologia-ou-psicodelia/

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As palavras mais mal-interpretadas do século

Ok, talvez eu tenha exagerado um pouquinho no título…até porque, aqui só poderei citar algumas delas. Mas quem é que não se cansa com tanta interpretação mal feita por aí?

Na era da comunicação, as informações são trocadas na velocidade da luz, e o efeito-telefone-sem-fio acaba fazendo com que certas palavras, geralmente utilizadas para demonstrar engajamento político e social, tenham o seu significado deturpado. A interpretação é um importante meio para a compreensão do mundo e nos é ensinada na escola, naquela aula de literatura a que ninguém presta atenção. Se você já se encontrou confuso perante alguma discussão internética do tipo PT x PSDB, talvez já tenha sido vítima da malvada má-interpretação. Cada um fala uma coisa e não se entendem, parecem falar línguas diferentes, discordam-se em tudo e o assunto acaba terminando com ambas as partes convencidas de que a outra é tão ignorante que nem dá para conversar.

O que é que faz com que as pessoas não se entendam com tanta frequência? Muitos responderiam que o motivo para as constantes falhas na troca de informações é a falta de educação, mas eu rejeito este argumento. Os colegas “estudados” caem nessa mesma armadilha e se envolvem em discussões sem fim e sem sentido, recheadas de preconceito e chauvinismo, e acabam por tirarem conclusões mais mistificadoras do que esclarecedoras. Já em minha humilde opinião, as frequentes falhas de comunicação entre as partes provêm de uma carência aguda na mente do brasileiro: o pensamento científico.

Qualquer um que fez faculdade de qualquer coisa estudou “Metodologia da Pesquisa Científica” ou alguma matéria parecida, mas poucos sabem do que se trata. A carência da compreensão do método científico, que é em minha opinião a matéria mais importante de todas, é o que nos torna menos qualificados e o que faz com que os nossos diplomas sejam mal-vistos no primeiro mundo (não que todas as nossas universidades sejam ruins e todas as do primeiro mundo sejam boas). Como é possível dar andamento aos estudos sem compreender COMO devemos pensar? A Metodologia Científica vem para empurrar o senso-comum para o canto e substituí-lo por considerações analíticas, sem as quais nenhuma ciência é possível. Nos cursos da área de Humanas, damos menos importância a essa metodologia, e é daí (também) que se originam tantas falhas na comunicação. Para aqueles que não querem mais cometer tais erros, deixarei aqui a fórmula mágica para a comunicação perfeita:

DEFINIÇÃO => INTERPRETAÇÃO

Primeiro defina uma palavra ou termo, e só depois o interprete. Interpretar sem antes definir é correr o grande risco de falar besteira. A maioria de nós interpreta uma mensagem de acordo com as nossas próprias experiências, portanto, se eu estiver contando uma história sobre uma tribo indígena para três pessoas diferentes, haverá três interpretações diferentes da mesma história. Uma imaginará um grupo de caçadores e canibais primitivos, a outra uma sociedade cultural desenvolvida e a outra um grupo de pessoas em constante perigo, sob a ameaça de animais selvagens, condições climáticas extremas e o assustador homem branco. Ninguém está errado. A partir daí, começam discussões sem sentido, aonde cada um defende a sua tese e ninguém se entende. Porém, se começarmos com a definição exata da palavra TRIBO, tudo fica mais fácil. Aqui citarei algumas das palavras que são frequentemente alvos da falta de uma definição concreta, e que geram muita confusão:

DEMOCRACIA: Quando se trata do nosso sistema político, a bagunça não poderia ser maior. Cada um tem uma diferente idéia do que é a tal Democracia e o que ela representa para nós. Porém, quase todos a associam com a Liberdade. Quando há injustiça e opressão, muitos levantam a bandeira da Democracia para clamar pelo nosso direito à Liberdade e isso me irrita. Claro que o sistema democrático nos assegura algumas liberdades que não são asseguradas por outros sistemas, ok. Porém, não podemos nos esquecer de que, na prática, não somos nada livres. Não temos o direito de usar drogas, não somos permitidos a andar por aí sem roupa, não podemos dar os ombros para o estado e não sermos contribuintes, mesmo ao alegarmos que somos contra o sistema. O Estado não quer saber se estamos satisfeitos ou não com o que é feito com o dinheiro dos nossos impostos, somos forçados a pagá-los mesmo assim. Quando não cumprimos com as suas ordens, o Estado utiliza-se de coerção, da imposição de penalidades físicas e emocionais, podendo, inclusive, tirar liberdades que a própria democracia nos garante, como o direito de ir e vir. Se há uma palavra-chave que represente a Democracia, esta não é a Liberdade, mas sim a Igualdade (se é isto que ocorre na prática…já é outra história).

ANARQUIA: Ainda na linha de pensamento da política, encontramos uma palavra que, de tão deturpada, a pobre-coitada já teve o seu sentido alterado pelo inconsciente coletivo. A Anarquia costuma ser associada à bagunça, à falta de ordem, e a sua imagem representada por uma grande orgia de corpos nus e embriagados, engordurados pelo banquete real, regada à incesto, violência e caos. Mas no fundo, a Anarquia é apenas a negação de todas as formas de Estado, pois o considera opressor e violento. A Anarquia parte do princípio de que, com uma boa educação moral e ética, não precisamos de um Estado que nos diga o que fazer. Parece um absurdo imaginar um Brasil que, da noite para o dia, não tem mais Estado. Eu mesma, como anarquista, considero isso um absurdo. A Anarquia é um conceito extremamente progressivo, que substitui as ordens superiores pelo uso do bom-senso, o que obviamente não é possível sem uma educação de primeiríssima qualidade. Apesar de soar inatingível, conceitos anárquicos existem e funcionam perfeitamente bem em países escandinavos, aonde, por exemplo, a compra dos bilhetes de transporte público não é controlada. Não há catraca ou sensor, basta entrar no ônibus. Muito raramente irá aparecer um controlador disfarçado e pedirá o seu bilhete de surpresa, lhe aplicando uma multa caso não o tenha (aqui acaba a anarquia). Porém, quando o controlador aparece, quase todas as pessoas têm bilhetes, sendo as exceções raríssimas e quase sempre estrangeiros, que ainda não tem a mesma linha de pensamento da população local. Para eles é simples: a empresa lhes fornece um serviço e eles pagam por ele. Se você os questiona se não sai mais barato nunca comprar um bilhete e pagar a multa de vez em quando, eles dizem que sim, mas que se eles não pagarem, o serviço não terá mais a boa qualidade que tem ou talvez nem exista mais. A idéia é: “Quero usar, devo pagar”. A Anarquia, quando aplicada no dia-a-dia, nos transforma de seres obedientes a seres pensantes. Uma boa analogia para diferenciar a Democracia e a Anarquia é um ônibus lotado: no ônibus, existem assentos preferenciais, que são reservados a pessoas com necessidades especiais e o seu número é calculado de acordo com proporção e probabilidade. Num sistema democrático, se um ônibus com 50 lugares tem 6 assentos especiais e 8 idosos, 2 ficarão de pé, pois a sua quota foi preenchida. Só o fato de que assentos especiais existem já é um limitante intelectual. Para que assentos especiais? Um anarquista cederá o seu lugar a uma pessoa que precise mais, independente daquele assento ser especial ou não, ou de quantas pessoas com necessidades especiais há naquele ônibus. É uma questão de bom-senso (se todos os anarquistas tem bom-senso, aí já começa uma outra discussão). O mesmo conceito, se fosse aplicado a todas as áreas da sociedade, eliminaria a necessidade de um Estado. Pelo fato de que as pessoas são tão diferentes e também tem acesso a diferentes níveis de educação é que a Anarquia se torna um conceito utópico.

AGNOSTICISMO: Taí. Essa eu nunca vi ser usada corretamente. Quando alguém me diz que é agnóstico, eu imediatamente questiono esta pessoa, pois tenho certeza de que ela não sabe o que está falando. Não me levem a mal, isto não é uma questão de arrogância. Mas acontece que quase ninguém sabe o que essa palavra significa e eu não entendo porque a mencionam tanto. Geralmente se auto-intitulam agnósticos aqueles que se livraram dos dogmas da Igreja, mas que ainda mantém uma crença em Deus. Há também aqueles que se dizem agnósticos por acreditarem em Deus, mas por não saberem defini-lo. As definições vão longe. Contudo, qualquer pessoa pode ser agnóstica, independente da sua crença ou não em Deus. A própria etimologia da palavra já explica o seu significado. Gnose é a palavra grega para “Conhecimento”, e o prefixo a é uma negação (ex.: atípico – uma coisa que não é típica). Portanto, a Agnose é a falta de conhecimento. Os agnósticos afirmam que uma discussão sobre a existência ou não de Deus é inútil, já que ninguém poderá provar se ele existe ou não. O agnóstico assume uma posição de constante dúvida, mas isso não os impedem de serem crentes ou ateus. Um crente agnóstico é aquele que crê, mas que não tem certeza se a sua crença tem fundamento. O ateu agnóstico é aquele que não crê, mas que sabe que pode estar errado, apesar de ser impossível provar que sim ou que não. A Agnose não é uma religião, mas sim uma posição que certas pessoas assumem para em uma discussão sobre a existência ou não de um ser divino. Portanto, se alguém lhe perguntar qual a sua religião, não diga que é agnóstico, pois a sua resposta estará errada. Se você não sabe em que acredita, diga que não tem religião e que possui uma visão agnóstica sob este tema.

Eu poderia escrever horas sobre este tema, mas não quero cansá-los. Creio que estes três exemplos tenham dado uma boa idéia sobre o que quis dizer com as problemáticas da definição e interpretação, mas se quiserem sugerir outras palavras, fiquem à vontade para enviarem-me as suas idéias. Mentes pensantes são sempre bem-vindas!

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A filosofia por trás da Propriedade Intelectual

Há algumas semanas atrás, estive em um protesto contra a assinatura do ACTA aqui em Munich, o qual foi bem-sucedido, já que o mesmo acabou não tendo sido assinado pelo governo alemão (aqui eu meu pergunto se os protestos espalhados pelo país é que foram decisivos, ou não). O fato de que um acordo como esse sequer existe me deixou muito assustada, e senti que deveria fazer algo. Eu, basicamente, considero a existência e a proteção de Propriedades Intelectuais justa, já que, se um pintor tem direitos sobre o seu quadro, um escritor, músico ou cineasta também deveria ter direitos sobre a sua obra. E se não tem, isso sugeriria que não somos donos dos nossos próprios pensamentos, mas somente daquilo que eles podem gerar, e desde que sejam tocáveis.

É essa a linha de pensamento me incomoda, pois é baseada nela que as Ciências Humanas tiveram a sua importância drasticamente reduzida. Um dos mais claros exemplos que posso citar é o caso dos professores, que praticam uma profissão de valor incalculável para a nossa sociedade, mas que recebem para isso um salário vergonhoso. Qual a função daqueles que se ocupam com as Humanidades? Pois nas outras áreas de atuação, é fácil saber. Aqueles que  estudam na área das Ciências Biológicas precisam conhecer o funcionamento do corpo humano, dos animais, células, seres vivos, etc. Os que se ocupam com profissões técnicas, aprendem o funcionamento e encaixe de peças, sistemas elétricos, entre outros. Na área das Exatas, os cálculos e experimentos buscam resultados lógicos e conclusivos. São ciências empíricas e tocáveis, deixando pouco espaço para dúvidas. E nós, o que fazemos? Nós pensamos, analisamos, definimos, interpretamos e criticamos. Nós buscamos a solução para problemáticas profundas e subjetivas e nos dedicamos à eterna busca do bem-estar da sociedade, tanto sob um parâmetro social quanto pessoal, quando nos envolvemos com temas complexos como o subconsciente e a arte. É através do exercício do pensamento crítico que o cientista de Humanidades se torna este ser flexível, que estuda uma coisa e acaba trabalhando em outra totalmente diferente. E passa fome.

Como podemos ver, existe uma correlação entre as Ciências Humanas e a Propriedade Intelectual, pois ambas questionam o quanto vale uma idéia. Eu, pessoalmente, creio que uma idéia tenha mais valor do que um objeto, já que dessa idéia vários objetos podem ser gerados. Porém, o valor do pensamento em nossa sociedade é baixíssimo. É daí que surge o questionamento do valor de obras de arte, como fotografias, músicas, filmes e livros, que são passados e repassados sem que haja nenhum interesse no idealizador daquela obra, coisa que considero um crime. Ao mesmo tempo, também tenho os meus próprios questionamentos quanto a este tema.

Mas agora, voltemos ao ACTA. Neste caso, sou bastante enfática: a Propriedade Intelectual que se foda. Se para protegê-la temos que minar um dos últimos refúgios do cidadão moderno, há algo de muito errado aí. Dá arrepios imaginar uma sociedade em que todos os membros estão sendo assim, tão rigorosamente vigiados. Controlar o que vemos na internet é o equivalente a instalar uma câmera em nossos chuveiros. Lá na rede é que damos vazão aos nossos hábitos, gostos, preconceitos e superstições mais bizarros, e se formos privados também disso, o que será de nós? A liberdade de pensamento é um dos cernes da nossa cultura ocidental, e para verificar isto, basta olharmos para os tempos que antecederam  o Iluminismo.

É inevitável citar o clichê de George Orwell, que teve sucesso em colocar em palavras e com precisão alguns dos nossos piores pesadelos. Para fazer uma analogia ao tema, utilizarei um exemplo meio ultrapassado: quando o Tiririca foi eleito, lembro-me que muitas pessoas pleiteavam a sua retirada por o julgarem incompetente, dada a sua experiência anterior como palhaço. Apesar das pontadas no estômago que me afligiram ao receber a notícia de sua eleição (e o mesmo ocorreu com Romário, Clodovil, Frank Aguiar…enfim, todos os membros do partido PPSG – Partido da Piada Sem Graça) fiquei apavorada com a sequer consideração de sua retirada. Enquanto você se pergunta por que, eu lhe respondo: por mais absurda que seja, ele foi eleito de maneira democrática. Não concordo e até me envergonho, mas vivemos em uma sociedade democrática, aonde o poder parte do povo, e o povo o escolheu. Retirá-lo seria um atentado contra a Democracia, e isso eu não vou deixar. Afinal, se podem burlar a Democracia com ele, o que impedem de fazerem o mesmo comigo? Se for obrigada a escolher entre arrancarem o meu pé ou a minha cabeça, eu escolho o pé.

Por isso, insisto: compreendo e até concordo com a Propriedade Intelectual. Mas, se para a defendermos, devemos todos perder a nossa liberdade…aí, caros leitores, eles foram longe demais. É preciso encontrar uma nova maneira de fazer isto, sem que seja necessário ferir os preceitos básicos que regem a nossa vida. Por isso estou aqui, para alertá-los de que tais projetos podem eventualmente pintar na terra aonde canta o Sabiá, e se isso acontecer, temos que estar prontos para a luta, sob pena de acabarmos nos livros de história dos nossos bisnetos. E não por uma boa causa.

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Livres para pensar

Joãozinho gosta de desenhar, Pedrinho é bom em Matemática e Clarinha arrebenta no Português. Porém, todos eles, independente de suas capacidades e interesses, terão de ter um aproveitamento mínimo de 60% na prova de Biologia. O sistema parece injusto e atire a primeira pedra quem nunca se perguntou “Para que estou aprendendo isso?”

Chegamos à escola como um pedaço de pano, e os professores trazem suas linhas e agulhas para bordarem em nós as experiências e o conhecimento que nos transformarão em quem seremos no futuro. A questão é: até que ponto podemos opinar no que será bordado? É sabido que os professores necessitam da colaboração dos alunos para que o processo de aprendizagem seja completo e bem-sucedido, já que é difícil fazer um bordado bonito em um pano que insiste em lhe escapar das mãos. Porém, que tipo de conhecimento é esse que o sistema educacional nos oferece?

A escolha do conteúdo que compõe uma educação completa e de qualidade pouco se difere em diferentes culturas. Apesar das aparentes divergências, em sua essência, as matérias são escolhidas de modo a estimularem diferentes partes do cérebro, tornando-nos aptos a conviver em sociedade e solucionar pequenos problemas em todas as áreas de conhecimento. Além do mais, conhecer a estrutura básica de cada área nos ajuda a reconhecermos as nossas próprias habilidades e aspirações, facilitando assim a nossa escolha profissional. Porém, até que ponto deve se ensinar as mesmas coisas e exigir os mesmos resultados de pessoas diferentes? Quais são os objetivos desta padronização, bem como as suas consequências?

Para quem teve problemas na escola, como eu, esta é uma questão fundamental e complexa, já que criar um sistema educacional para cada tipo de pessoa parece um sonho distante. Porém, posso afirmar sem nenhuma restrição que a escola foi, em muitos aspectos, um limite intelectual em minha vida, principalmente nos chamados trabalhos em grupo. No meu caso, a melhor maneira de se absorver algum assunto é através de estímulos visuais. Até hoje eu tenho o hábito de assistir a documentários, já que tenho grande interesse em ampliar o meu conhecimento, mas costumo perder-me durante a leitura de um texto científico, tornando a compreensão final muito complicada. Enquanto a professora explicava, eu era frequentemente a única que prestava atenção enquanto outros conversavam, desenhavam ou dormiam. Porém, eu não gostava de fazer os exercícios e sofria muita repreensão, chegando a ser considerada uma aluna-problema, fazer visitas frequentes à Diretoria, receber algumas suspensões e repetir de ano duas vezes.

Durante este período eu vivi uma grande confusão interna, pois era tratada como uma pessoa de baixo intelecto. A minha pobre mãe, a qual eu adoro citar aqui no blog, sofreu muito durante o meu período escolar. Eu simplesmente não me adaptava ao sistema e ela, apesar de ser professora, não podia fazer muito para me ajudar. O que mais me intrigava era que a minha mãe, que apesar de amável sempre foi muito severa, não ficava brava de verdade comigo. Ela ficava irritada com tantas advertências e com as frequentes vezes em que era chamada à escola, e ficava triste por mim, por saber que vivia em um ambiente hostil. Mas no fundo, eu notava que ela sabia que eu estava indo bem, apenas sob uma outra perspectiva.

Já adulta, posso hoje olhar para trás e compreender a minha vida escolar sob um parâmetro mais analítico e realista. Eu nunca fui um aluna muito boa ou muito ruim, apenas entendia as coisas e me expressava de maneira diferente. Em matérias pelas quais me interesso, como História, Geografia, Inglês ou Português, eu apenas prestava atenção às aulas e tirava boas notas. Já em Biologia, Artes e Esportes, eu era, digamos, medíocre. As minhas notas eram medianas, mas suficientes para passar de ano. A coisa fica feia quando chegamos às Exatas. A Matemática (e aqui incluo a Física e a Química, já que destas matérias aprendemos basicamente a calcular) foi selecionada, cortada, compactada e enlatada para tornar-se “mais fácil” para os alunos, já que o universo matemático vai muito além das fórmulas que aprendemos na escola. Até hoje, eu não faço idéia do que são essas fórmulas, nunca fiz uma e não sei do que se trata. Eu consigo muitas vezes alcançar resultados corretos, mas não consigo passar o processo do cálculo para o papel. Professores não tinham paciência comigo e me tratavam como uma pessoa desinteressada e sem futuro, ao invés de estimular a minha capacidade.

O que se espera do aluno? Que ele siga instruções à risca e se adapte aos padrões impostos ou apenas que ele aprenda, seja qual for o meio que ele utiliza para isso? Maria Montessori foi uma educadora italiana que criou o método Montessori de ensino, método este que respeita o desenvolvimento psicológico natural de cada criança, sendo comum a mistura de crianças de diferentes idades em uma mesma classe, bem como maior liberdade de escolhas. O método Montessori, assim como o método utilizado nas escolas Waldorf e mais alguns outros exemplos similares, vem para mostrar que o padrão do método de ensino pode ser quebrado, sem prejudicar o processo de aprendizagem dos alunos. Porém, não apenas a educação básica é vítima desta padronização.

Quando cheguei à Alemanha e descobri que, apesar de ter curso superior, o meu diploma não me habilitava a entrar direto na faculdade, nem mesmo para começar um curso do começo, fiquei extremamente decepcionada. Fui direcionada para o Studienkolleg, um curso preparatório para universidade (para o qual tive de passar com alta pontuação em uma prova de alemão) e que tem duração de um ano. É inevitável sentir-se discriminada, como uma reles imigrante do terceiro mundo que é burra demais para atender a uma universidade alemã. Todavia, logo no primeiro dia, aprendemos que os alunos estrangeiros que fazem o preparatório possuem chances mais altas de terminarem o curso, além de terem notas melhores do que os outros que não o fizeram. Por quê? Por que fazer faculdade na Alemanha não é bolinho. Aqui, os professores existem apenas para lhe passarem a matéria, organizarem seminários, corrigirem provas e trabalhos e para ficarem à disposição para dúvidas. Todo o seu rendimento dependerá do seu próprio esforço, e não dá para fazer trabalho em grupo para recuperar nota. Você, como aluno, tem a obrigação de ir bem em todas atividades, pois se for mal, não poderá prosseguir para o próximo semestre. E se tiver apenas notas médias, se formará com uma nota média, o que lhe impedirá de fazer um mestrado ou até de arrumar bons empregos, já que a sua nota final da faculdade deverá constar em seu currículo. Em época de prova, você não irá encontrar ninguém no bar, pois todos estarão na biblioteca. Nem mesmo em casa eles estudam, pois sabem que as distrações são muitas. Isso porque o modelo presencial, aonde os alunos devem ir todos os dias à Universidade para assistirem às aulas, palestras e seminários, só foi implementado na Alemanha para que o país pudesse fazer parte do Processo de Bologna, um acordo que impõe um padrão de estudos às Universidades européias para que todos os diplomas tenham o mesmo nível e sejam aceitos entre si. Antes do Processo de Bologna, as universidades alemãs exigiam presença apenas em alguns seminários e nas provas, sendo restante do conteúdo estudado em casa e nas bibliotecas das universidades de maneira independente.

O caso do modelo Montessori para educação básica e do sistema de auto-disciplina aplicado às universidades alemãs são apenas alguns exemplos que demonstram o sucesso da liberdade e da aplicação do conceito da responsabilidade no que tange a questão da Educação. Quando olho para trás e revejo os meus tempos de escola e universidade, vejo um sistema burro e repetitivo, onde todos os que estavam na minha turma, tanto os dedicados quanto os que tinham dificuldade e os alunos-turistas, receberam o mesmo diploma. A razão para isso é que fomos todos padronizados através de atividades simples e superficiais, estando constantemente sob a supervisão dos professores, não sendo estimulados a questionar, solucionar, pensar por nós mesmos.

Se você é um dos que acreditam que a supervisão é necessária para que haja bom rendimento, reavalie os seus conceitos, pois as estatísticas mostram exatamente o contrário. Isso vale para os que querem começar em uma nova profissão, para aqueles que querem se especializar, para os que têm filhos com dificuldades na escola, ou mesmo para aqueles que querem simplesmente estudar em casa, por prazer. As instituições de ensino podem lhe direcionar, solucionar dúvidas e lhe manter atualizado, mas não pense que elas podem lhe transformar em um bom profissional. Isso só você pode fazer.

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Alter-ego virtual

Na internet sou pastor, político e putanheiro
Falo bem do amor e mal do dinheiro
Aviso os amigos quando vou ao banheiro
 
Aqui eu falo o que não devia
Acredito na anarquia
Exagero na putaria
 
Checo todos os updates
Faço férias nos States
Sou amigo do Bill Gates
 
Horas faço-me de são e outras de drogado
Umas de maldito e outras de engajado
Espero que todos tenham acreditado…
 
 

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Nós Tomamos, Vós Lucrais, Eles Riem

Dor de cabeça? Pílula. Cólica? Pílula. Dor muscular? Pílula. Febre? Pílula. Dor de estômago? Pílula. Nariz escorrendo? Pílula. Prisão de ventre? Pílula. Fadiga? Pílula. Alergia? Pílula. Depressão? Pílula.

Esse é o approach da medicina ocidental. Em cada casa, em cada escritório, em cada bolsa de mulher e às vezes até no carro, encontramos a tal farmacinha. Ali tem de tudo: analgésicos, antifebris, descongestionantes nasais, energéticos, relaxantes musculares e muito mais. Em viagens, não pode faltar. Assim que bater o mal-estar, basta “dropar” uma bolinha e em breve ficará tudo bem. A automedicação ocorre diariamente em trabalhos, escolas, lares e até em situações sociais, fazendo com que aceitemos este comportamento como se fosse normal.

O que há de errado em se automedicar? Bom, comecemos do começo. Porque você está doente? Porque você tem dores freqüentes? Nada disso é natural. Ninguém simplesmente adoece assim, sem motivo. Se você tem qualquer sintoma de qualquer coisa, é porque está fazendo algo errado com a sua saúde, pois mesmo doenças transmissíveis como a gripe terão dificuldade em se reproduzir em um corpo saudável. A maioria das pessoas que conheço tem dores de cabeça e apresentam cansaço físico e mental quase diariamente. Algumas delas passam dias sem ir ao banheiro e vivem com as costas doloridas. Solução? Pílulas.

A medicina ocidental, apesar de possuir o conhecimento e a técnica necessários para a prevenção de tais doenças, optou por concentrar-se nos efeitos colaterais e em como apaziguá-los de maneira eficiente. Quando fui ao médico há dois meses e reclamei de dores na região da bexiga e dor ao urinar, o médico me disse o seguinte: ” A Srta. está com infecção urinária. Irei lhe prescrever um antibiótico que deverá tomar por 5 dias, e lhe peço que me visite na próxima semana para que eu possa saber se melhorou. PRÓXIMO!”

Como assim? Ele nem quer saber por que eu tenho infecção urinária? Desde quando é natural que uma garota jovem tenha infecção urinária? Eu fiz algo errado. Não coloquei casacos suficientes em alguma noite de inverno, não estou dormindo direito, comi alguma coisa errada, bebi demais? Não sei, porque o médico não está preocupado com a origem do meu problema, ou mesmo em me educar para que eu não adoeça de novo. O que ele quer é que eu continue adoecendo, para que eu continue o visitando e continue precisando dos tais remédios que ele prescreve, sustentando assim a milionária indústria farmacêutica, que mais parece ocupar-se em nos manter doentes para aumentar os seus próprios lucros. Ou talvez ele até esteja preocupado, mas me acha burra demais para entender o funcionamento do corpo humano, já que esta é a profissão mais elitizada de todos os tempos. Esta parece ser uma visão radical, mas foi a única resposta que encontrei para o enigma do processo de desinformação pelo qual somos submetidos com relação à nossa saúde.

Não quero colocar toda a responsabilidade da nossa sociedade doente nas costas da classe médica ou da indústria farmacêutica, já que é mais do que sabido que as pessoas raramente seguem as dietas e recomendações passadas pelos seus médicos. Porém, eu, que estou interessada em melhorar a minha qualidade de vida e evitar doenças, não encontro essa oportunidade na medicina ocidental. Aqui, o que impera é a política do damage control e do ciclo vicioso, onde cada grupo de pessoas depende do outro para sobreviver, sendo o tema Saúde muitas vezes deixado de lado para dar lugar ao Marketing, Consumismo e Comodidade.

Já sofri muito preconceito por não tomar medicamentos. Em meus empregos era sempre igual, todos podiam reclamar de dor de cabeça e fazer cara feia, menos eu, que quase nunca tinha nada. Se me batia uma cólica, eu tinha que ficar quieta, não podia abrir a boca. Sabe por quê? As pessoas diziam que eu não tinha o direito de reclamar, pois não havia tentado solucionar o meu problema. Diziam que, se eu gostava de sofrer, que o fizesse calada. Também já fui mal-tratada por muitos médicos que, ao ouvirem-me dizer que não estou interessada em receita para medicamentos, me respondiam “O que a Srta. está fazendo aqui, então?”. O que eu queria era saber como fortalecer o meu organismo, como evitar aquela doença no futuro, ou saber se ela não estaria em estágio avançado demais, prejudicando o meu corpo de outras maneiras. Nenhum dos médicos para os quais eu disse isso tentou me ajudar. Nunca.

Eu não sou contra medicamentos. Compreendo a importância dos avanços científicos na área, que tornam a nossa vida mais longa e segura. Um bom exemplo desta dualidade são os medicamentos antifebris. A febre é um mecanismo importantíssimo de defesa do corpo. Quando um vírus, peguemos a gripe como exemplo, lhe atinge, ele começa a se multiplicar e a enfraquecer as suas células saudáveis. Enquanto isso acontece, você não sente nada. De repente, o seu corpo percebe o perigo e começa a combater o vírus, eliminando as células contaminadas e lhe deixando enfraquecido e dolorido. Ou seja, quando você começa a sentir-se mal, significa que o seu corpo está reagindo. Quando o vírus também está bastante enfraquecido, o corpo lança a sua arma final: a febre. Ao aumentar levemente a temperatura do seu corpo, o já enfraquecido vírus provavelmente irá morrer, e você irá começar a se recuperar lentamente, até que o seu corpo substitua aquelas células por outras novas e saudáveis e você esteja curado. Mas isto é teoria. Na prática, o que as pessoas costumam fazer é tomar um antifebril, o que acaba muitas vezes fortalecendo o vírus. Se você está se perguntando por que então existem medicamentos antifebris, a resposta é muito simples: uma febre muito alta ou muito longa pode danificar certos órgãos do seu corpo, podendo inclusive ser fatal. Quando um vírus ou bactéria são fortes demais e o seu corpo sozinho não está conseguindo combatê-los, está na hora de ir ao hospital e tomar um medicamento antifebril, e tentar combater a doença de outras formas e sob supervisão médica.

Outro caso são as dores. Seja de cabeça, de estômago, de junta, muscular ou qualquer outra, as dores são sintomas de que algo está errado com o seu corpo. Ao tomar um medicamento e maquiar esta dor, você não estará eliminando a sua causa. Por exemplo: se você tem dores de cabeça diariamente porque ingere muito açúcar, você continuará o ingerindo, pois os medicamentos que toma escondem os efeitos colaterais e o impedem de tomar uma atitude mais eficiente. Com o tempo, eles não farão mais efeito e você passará a adoecer por conta deste péssimo hábito, diminuindo consideravelmente as suas qualidade e expectativa de vida. Remédios pós-ressaca também são um absurdo, já que você não mais precisará controlar o seu consumo de álcool, por saber que poderá esconder a dor com uma pílula. Se não houvesse nada para apaziguar a sua dor, você iria controlar-se mais e beberia como um adulto. A ressaca é motivo de piada na nossa sociedade, mas é uma intoxicação grave. Beber até o ponto de danificar o funcionamento de um órgão não tem graça nenhuma.

Bom, já vimos que o consumo inconsequente de medicamentos nos torna ainda mais doentes, além de preguiçosos. Querem mais motivos? Pois há muitos, tantos que não sei se poderei abordar todos neste post. Mas para dar alguns exemplos, podemos citar a grana que você gasta com eles. Além de empobrecer, você ainda enriquecesse uma indústria que usará o seu dinheiro para tentar vender-lhe mais dos seus produtos, fazendo com que gaste mais dinheiro com eles, etc. Podemos citar também a diminuição da sua resistência, já que suportar uma simples dor de cabeça parece algo de outro mundo. Fico intrigada com o fato de que as pessoas não se importam se estão saudáveis ou não. Para mim, é um absurdo tomar um medicamento em situações não-emergenciais, pois perco o controle sob o meu próprio corpo. Se estou com dor de cabeça, quero senti-la, saber em que parte da cabeça se localiza, a sua intensidade, a sua duração. Quero saber a que horas e em que situações ela costuma vir e aprender assim a evitá-la. Assim que ela passa, sei que o meu corpo está agora mais saudável, e não drogado.

Falando em drogado, chegamos a um tema interessante. Drogas. Porque é que nos vendem tantas drogas assim, em promoção de “leve 3, pague 2”, em jornalzinho de anúncio? Estas são drogas pesadas. Você pode achar engraçado que eu diga que um Tylenol é uma droga pesada, mais saiba que se você tomar 8 de uma vez, poderá morrer. Se for uma criança então, provavelmente irá morrer. Se você fumar 8 baseados, tomar 8 pílulas de Ecstasy ou 8 LSDs (desde que puros) você não irá morrer. Isso lhe diz alguma coisa?

Você está sendo levado à falência, à degradação física e mental e ao túmulo. Você está sendo bombardeado de notícias, novas descobertas e tendências, que o confundem a ponto de não saber mais o que é e o que não é saudável. Ovo faz bem ou mal? Alimentos crus são mais saudáveis que cozidos? Não preciso de proteínas? É mesmo de enlouquecer. São tantos os direcionamentos na área da saúde, que fica difícil saber se estamos fazendo as coisas direito, já que para alguém, sempre estaremos fazendo errado. A macrobiótica, por exemplo, diz que devemos comer basicamente alimentos crus. Já a medicina chinesa, diz que alimentos crus podem ser intoxicantes e nos indica a diminuir consideravelmente o seu consumo.

A minha sugestão é que use o seu bom-senso, se você tiver. Ao escolher uma filosofia de vida para guiar a sua saúde, considere os fatores ambientais. Os hábitos alimentares dos povos da Sibéria provavelmente não se adéquam às nossas necessidades num país tropical. Outro fator importante é observar a saúde daqueles que seguem a dieta. Algo que acho engraçado são as dietas americanas, que figuram no topo da lista das dietas mais populares. Como alguém pode seguir as dietas de um povo cuja população é a menos saudável do mundo? Baseada neste princípio foi que escolhi para mim a medicina chinesa. Os chineses são muito saudáveis, possuem uma das maiores expectativas de vida do mundo e devem lidar com temperaturas extremas, como nós. Assim que passei a aplicar alguns dos princípios em meu dia-a-dia, senti-me imediatamente melhor, e a tendência é melhorar ainda mais com o tempo. Buscava algo que eu pudesse seguir suavemente, sem limites ou proibições, apenas educando o meu paladar e o meu corpo a fazerem escolhas melhores. Porém, somos todos diferentes e talvez você não goste da medicina chinesa, mas prefira alguma outra filosofia. Tudo bem. Não importa qual é a melhor, ou mesmo SE há uma melhor, o que importa é que cuide da sua saúde.

 Se você sofre de mal-estar, dores freqüentes, fadiga e stress, comece do começo. Diminua a sua ingestão de açúcar e farinha de trigo refinados, tome cuidado com o excesso de sal, não coma em restaurantes diariamente, beba água, tome chás de ervas, aumente a variedade de vegetais na sua dieta, cozinhe mais, procure ingerir todos os tipos de sabores (doces, salgados, azedos, amargos), compre alimentos orgânicos (se você acha que eles são muito caros, coma menos. Você provavelmente come mais do que precisa, anyway…ou use o dinheiro que você irá economizar com os remédios, dos quais não mais precisará). Isso só tem cara de dieta, mas não é. Essa sua compulsão por doces, pães e alimentos pesados não acontecem naturalmente, são apenas os parasitas e fungos que vivem em seu corpo lhe pedindo comida. Pois é. Você, como grande parcela da população dos países industrializados, está provavelmente infestado de fungos e parasitas, que proliferam com a ingestão excessiva dos alimentos que o pedi para evitar. Esse desejo de comer besteira são eles, não você. Pessoas saudáveis não sentem isso, pelo menos não com tanta freqüência e de maneira incontrolável. Além do mais, eles se alimentam dos poucos nutrientes que você ingere, o deixando enfraquecido, suscetível a doenças e feio, já que eles também são culpados pelas suas olheiras, pele feia, queda de cabelos e aquela bolha que você chama de barriga.

Vai ao médico dizer que está com parasitas? Ele vai te receitar uma pílula. Você vai tomar e, em poucos dias, estará livre deles. Algumas semanas depois, eles já terão se proliferado novamente, já que você continua criando o ambiente perfeito para eles viverem e ainda os alimenta como uma mãe-coruja. Não adianta tentar fugir: está na hora de mudar. Todos os medicamentos que você precisa estão no supermercado e a sua nova bula é o seu livro de receitas. A saúde e o equilíbrio ocorrem de dentro para fora, e não de fora para dentro, como querem que você acredite. Encontre dentro de você o estopim que lhe dará forças para melhorar a sua vida e livre-se de uma vez por todas da sua farmacinha. Depois volte aqui e conte-nos a sua história de sucesso 🙂

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Revista Pittacos

Hoje foi publicado o meu primeiro texto como colaboradora da Revista Pittacos. Se tudo correr bem, haverá uma publicação de minha autoria por mês. A Revista é interessante e aborda temas de todos os tipos, sem censura e sem preconceito. Dêem uma olhadinha!

http://revistapittacos.org/2012/02/14/quer-ficar-rico/

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Why I don’t shop in discount markets

As my position of not buying in discount markets is often taken as radical, I decided to clarify what is it that motivated me to take this decision and, perhaps, approach this subject from a new point of view.

Most of the people I know, I would even say practically all of them, are regular costumers of discount markets. Some have a preference for a specific one, others just go to the closest or the one with the best offers. When the subject comes up, like if I’m planning to cook with a friend and we should go shopping together and I mention I would like to go to another place to get the goods, my comment is hardly ever well received. I’m promptly confronted with arguments like “They have many biological products”, “You can buy only healthy stuff if you like”, “They are only cheaper because they keep it simple, it doesn’t affect the quality of the food” or even the most known one “That’s the only thing I can afford!”. And if you look at things from a personal perspective, these arguments are in fact true, with exception of the last one.

It is a mistake to think I don’t like discount markets because I believe their food is of bad quality. They do sell a lot of shit, but if you’re picky enough, you will make the best out of it, like with everything in life. You also have to do that in normal markets anyway. The first time I’ve been in a discount market was in Brazil, when the Spanish chain “DIA” decided to bring that horrible habit overseas. At first, I thought it was a great idea to get rid of the whole marketing aesthetics and to optimize space in order to lower costs and make products more available to the ones who can’t afford it. It sounded like a simple and democratic idea. Since in Europe this trend is heavily installed, here I could get a better view of the consequences of this change upon society.

In my first months in Germany, I was also buying in discount markets, like everyone I know. It made all the sense for an underpaid student and it didn’t even cross my mind to do otherwise. I can’t say the messy piles of cheap junk food didn’t bother me since I’m a very visual person, but I tried to convince myself it was all part of the game. I also wasn’t very fond of the huge lines and the crankiness of the cashiers, but, you know…it was fucking cheap.

The first time I started reevaluating the whole thing was when I realized the amount of trash I was producing from all my food’s packaging. It was a lot more than I was used to and, although I carefully separated the materials for recycling, I was still aware that the recycling process itself is quite polluting, and that the best we can do is to avoid producing garbage in the first place. Recycling is often used as an excuse for producing endless amounts of trash, and people completely ignore the costs and trouble the whole process brings.

From this point on, things started to get nasty. Every time I went to a discount market, I started to pay attention to all kinds of stuff I was ignoring before. One of them is the clients themselves. They are very often fat and pale, the type of people you would expect to bump into in a line for receiving government’s allowance. Immigrants and people wearing uniforms for minor jobs are also quite common (separatist elite concepts like these are things I am strongly against). They’re usually carrying bags full of industrialized meat, sweets, packed white toast bread and sugary drinks, which is what makes them look fat and pale in the first place. I also noticed these markets tend to have some strange brands that you can only find there. Looking more closely, I could also realize the whole purpose of their existence: quantity wins over quality. This is why I said earlier that I disagree with the argument that it is cheaper to buy in discount markets.

The truth is it isn’t cheaper. Because a half kilo package of yellow tasteless processed cheese costs 99 cents, you take three packages and eat like a pig. If you go to a cheese store, with 2,97 Euros you can buy a small piece of a good quality cheese of your choice. Moreover, you will be supporting a small family business, instead of a blood-sucking international chain that employs people for miserable salaries and triple amount of work and that will treat you like a dog, as a consequence of their unhappiness. So, in the end, you will not only NOT be saving money, but you’ll also be eating more than you need. Let’s not forget the clothes and objects they sell, which are mainly produced in countries that enslaves children and pay a few cents per day to the workers, are most commonly composed by plastic in all its forms (polyester, acrylic, etc) and generally last very little, forcing you to buy more and more of their shit, spending a lot of money and producing more garbage to our already overburdened world.

For me, discount markets represent everything I’m against. They are not ecological, not social, not equalitarian, have no interest on people’s health. The only thing they try to do is to convince you to buy the biggest possible amount of trash so they can keep on getting richer and opening more stores, to keep getting richer and opening more stores…it’s a snowball effect, at the cost of people’s money and health. Since I changed back to buying in smaller local shops, my health has improved and I don’t spend more money than I did before, and I also don’t have to starve. I feel a lot less compelled to buy sugary or salty treats, since they aren’t jumping at my face at every two meters. In local shops, food tends to be fresher and have less industrial additives, and you will almost certainly be greeted and served in a friendly way, and designed to fit your needs.

This text isn’t calling people for a massive discount market boycott. No way. I’m actually glad they exist. As the pre-Socratic philosophers would argue about if they were alive: the old man in the vegetable stand wouldn’t treat me so well and his tomatoes wouldn’t taste so good if there wasn’t bad food served by sour people in the first place, simply because I wouldn’t have anything to compare it to. Furthermore, I believe all kinds of stuff should exist, to allow us to make our own choices. My only advice is that you analyze real facts before making such decisions, instead of just picking some arguments that sustains the result you want and leaving all the others behind. That’s how religion works, but we can leave this for another post 😉

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Do amor ao asco: A história de um fiasco

Lá vai Marta, descendo a ladeira. Ela gosta deste trecho do caminho ao trabalho, pois não precisa se esforçar para se mexer, deixa apenas que a gravidade a impulsione. Andando sem balançar os braços e com os olhos fixados no nada, nem escutou quando o Seu Neco a cumprimentou, como faz todos os dias quando a vê passando em frente à sua lojinha de doces.

Marta havia perdido o apetite pela vida. Desde que o seu relacionamento-relâmpago de três meses com Alfredo terminou, ela não penteava mais os cabelos, não passava batom e não lavava as suas roupas. Por sorte, ela trabalha no setor de criação de uma agência publicitária e ninguém percebeu a mudança.

Alfredo era o homem de seus sonhos. Ela o conheceu na barraca de algodão-doce do parque de diversões da cidade, quando levou a sobrinha para andar de carrossel. Alfredo estava lá, encostado no balcão de metal da barraca, conversando com o vendedor. Ela chegou perto para comprar um algodão-doce e, ao esbarrar em suas costas, sentiu um aroma inebriante, que ela classificou como “cheiro de floresta”: amadeirado, fresco, forte e selvagem. Ela contou isso para ele depois e ele achou graça. Alfredo logo começou a flertar com Marta e, quando a pequena sobrinha perdeu a paciência e começou a correr para lá e para cá, eles tiveram que interromper a conversa. Marta já estava vermelha e toda manhosa quando Alfredo pediu o seu telefone. Ela gostava de fazer um charminho nessas situações, mas dessa vez, não deu tempo. Falou o telefone de uma vez e correu para procurar a sobrinha.

Para o desespero de Marta, Alfredo demorou cinco dias para ligar. Ele a convidou para ir ao cinema e, durante a sessão de uma comédia romântica hollywoodiana recheada de gente magra e bonita, tudo deu certo no final, assim como no filme: eles se beijaram. Desde então, passaram a se encontrar com freqüência e logo começaram a namorar. Marta era cegamente apaixonada por Alfredo e Alfredo…gostava de Marta. Estavam sempre passeando, indo à praia nos fins-de-semana, assistindo a filmes idiotas, comendo besteira de madrugada e falando bobagem. Quando, um dia, Marta disse a Alfredo que estava na hora que ele conhecesse os seus pais, ele ficou estranho. Nunca falava da família dele e Marta não sabia por que, e agora ele não queria saber da família dela.

Alguns dias após a discussão sobre o jantar com os pais dela no domingo seguinte, Alfredo enviou-a um SMS:

“Martinha, andei pensando sobre nosso namoro. Acho que não vai dar certo. Não fique triste, o problema não é com você, eu é que estou confuso. Espero que possamos ser amigos.”

Marta leu a mensagem e, com as pernas bambas, precisou encostar-se na parede para não cair. A sua respiração ficou curta e ofegante e ela não sabia se deveria responder. Resolveu ligar, mas caiu na caixa postal. Ela tentou outras 37 vezes, torcendo para que a linha estivesse apenas ocupada, mas logo caiu na real de que ele havia desligado o telefone assim que enviou a mensagem.

Desde o dia fatídico, Marta vinha se arrastando pelas ruas e corredores como um corpo sem alma. Ela não quis trocar a roupa de cama, pois Alfredo havia se deitado nela, e ela jurava que ainda sentia o “cheiro de floresta”, mesmo quando a sua irmã dizia que só sentia cheiro de suor ressecado. Em um jantar com as amigas na casa da Roberta, percebeu que as meninas faziam de tudo para animá-la e desviar a atenção do “saco de merda”, novo apelido que elas deram ao Alfredo após o vergonhoso término via mensagem de texto. Em meio às risadas, Roberta levantou-se e foi à cozinha para buscar mais uma garrafa de vinho. Quando abriu a porta da geladeira, um cheiro insuportável de comida podre espalhou-se pela sala.

          Ju: Nossa! Quem morreu?

          Pri: Chama um padre! Os caça-fantasmas! Alguém acuda!

          Marta: Sabe que eu…

          Thaís: Você o que, Martinha? Lembrou do peido do Alfredo?

As meninas caíram na gargalhada. Não era isso que Marta ia falar, mas a piada da Thaís a lembrou do dia em que ela e Alfredo estavam no carro, quando de repente, Alfredo peidou. Ela achou estranho na hora, mas como ele não esboçou nenhuma reação, ela achou que este talvez fosse um bom sinal, de que ele agora sentia-se à vontade perto dela. Ela sentiu um aperto no peito e lamentou não tê-lo por perto.

Marta não suportava mais sentir-se assim. Ela sabia que deveria dar um basta neste estado de depressão em que se encontrava, antes que consumisse toda a sua energia. Precisava aumentar a sua auto-estima e retomar as rédeas de sua vida. Marta decidiu fazer o que todas as mulheres fazem quando em recuperação de uma decepção amorosa: cortar os cabelos e comprar sapatos novos. Ela, que sempre considerou este comportamento fútil, hoje entende que é na verdade um passo importante na busca por uma nova identidade, um novo começo, a remoção cirúrgica de um passado indesejado. Para entrar com o pé direito em uma nova vida, nada melhor do que um novo “eu”. O dia seguinte foi reservado para um dia de beleza, com direito à esfoliação, hidratação da pele e cabelos, manicure e pedicuro, máscara de argila e limpeza de pele. Quando Marta aproximou-se do espelho de aumento para começar a eliminar os cravos de seu rosto, hesitou. “Estes cravos estavam lá conheci o Alfredo…eles viram tudo” disse ela.

Marta olhou para o espelho e viu o seu rosto com aquela expressão tristonha. A frase que ela acabara de dizer estava ressoando alto, como se as paredes houvessem lhe arremessado as palavras de volta, de tão tolas que eram. “Os cravos estavam lá quando conheci o Alfredo? Que porra é essa? Eu enlouqueci?”. Uma porção de imagens lhe veio à cabeça, quase na velocidade da luz. Ela lembrou-se da cena na casa da Roberta, quando o cheiro de peido a fez lembrar-se dele com nostalgia. Lembrou-se do dia em que Alfredo chegou do futebol com cheiro de azedo. Lembrou-se de quando eles chegaram em casa após uma corrida no parque e ele tirou o tênis, empesteando o apartamento com aquela fuduca. Lembrou-se de uma espinha bizarra que ele tinha nas costas e não tirava, nem deixava ninguém chegar perto. Lembrou-se de uma verruga gigante e peluda que ele tem no braço e que ela sempre esbarrava quando estavam dormindo de conchinha. Lembrou-se de um pêlo que saía do nariz dele e que ela não entendia por que ele não cortava. Lembrou-se de uma cueca suja que encontrou no chão do banheiro e que não lhe saiu mais da cabeça. “Blaaaargh”, disse ela em voz alta, enojada. Marta correu para a cama e arrancou os lençóis, os enfiou na máquina de lavar, colocou o dobro de sabão no dosador e ajustou a temperatura máxima. “Ai que nojo, ai que fedor, ai que horrível!” exclamava ela, enquanto esfregava um paninho com desinfetante em tudo em que ele havia encostado.

Alguns dias depois, Marta foi à sua cidade natal para visitar os seus pais. Como sempre, a sua mãe assou um bolo de fubá cremoso, favorito da Martinha. Enquanto conversavam sobre coisas como a alta do preço do feijão e o Alzheimer da avó, a sua mãe lhe perguntou: “E aquele moço, o Alfredo, no que deu? Desde que você cancelou aquele jantar, não fa…nossa filha, que cara é essa? Parece que chupou limão!”

Marta: “Ai credo mãe, não fala desse cara quando eu estou comendo!”

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Estou com frio

Ontem fui ao centro tomar um café com um amigo. Combinamos de nos encontrar em frente a uma igreja famosa, que fica próxima à saída do metrô. Cheguei um pouco antes e precisei esperar 3 minutos por ele, o que me deixou extremamente mal-humorada. Você deve estar pensando que eu sou uma nojentinha arrogante por ter ficado irritada por um atraso de 3 minutos, mas eu tenho um bom motivo: o frio.

No trem, à caminho do nosso ponto de encontro, cometi a burrada de checar a temperatura atual no meu celular. Não sei para quê eu fiz isso, já que não havia nada que eu pudesse fazer e eu teria que ir de qualquer forma, mas eu fiz. O termômetro marcava -14°C. Se você já ficou paradinho de pé esperando alguém com essa temperatura, você sabe que 3 minutos são suficientes para que o frio ultrapasse todas as camadas de roupa, de pele e de banha e atinja os ossos. O meu amigo chegou.

Tivemos que caminhar 3 quadras até a biblioteca da universidade para que ele buscasse um livro que havia encomendado, e mais 2 quadras para chegarmos ao café que queríamos. A essa altura, eu já não sabia mais o que ele estava falando. O frio havia penetrado cada centímetro do meu ser e eu comecei a ouvir um zumbido de longe. „Deve ser o meu tímpano se petrificando“, pensei. A pele do meu rosto doía tanto que tive a sensação de que alguém havia encostado um isqueiro aceso nas minhas bochechas. Finalmente chegamos ao café, e quando abrimos a porta, sentimos aquele delicioso bafinho quente saindo dos aquecedores, que agem como pequenos choques pelo corpo, relaxando os músculos e nos deixando com um soninho gostoso.

 A caminhada de 5 quadras até lá não foi fácil. Eu carregava apenas a minha pequenina bolsa, com a minha carteira, chave e mais algumas besteirinhas, mas sentia-me como se um obeso mórbido estivesse fazendo „cavalinho“ no meu ombro. Com 3 calças, 2 blusas de lã, 2 casacos, 2 xales, 3 meias, bota e gorro forrados com lã e luva grossas, a impressão que tinha é que estava caminhando em areia movediça. Cada passo, e parecia que estava cada vez mais longe do café. Para piorar, tinha uma vozinha estridente na minha cabeça, dizendo „Mãe, tá chegando?  Tá chegando, mãe? Já chegamos? Quantos minutos faltam?“. Acho que a voz era a minha própria, que ficou gravada em algum lugar remoto no centro de memória do meu cérebro após uma sessão de importunação à minha mamãe, há muitos anos atrás.

Pedi um chocolate quente e, ao invés de tomá-lo, ficava esfregando a xícara no meu rosto, no meu pescoço, na minha barriga, no meu joelho, etc. O meu amigo me alertou que eu não deveria fazer isso, ou sentiria ainda mais frio quando saíssemos. „MAIS FRIO? Chama um médico!“, foi o que eu respondi. Após uns 20 minutos de blablabla, quando comecei a sentir o dedo mindinho do pé esquerdo de novo, era hora de sair. Começou tudo de novo. Meu amigo foi embora e eu decidi colocar o fone de ouvido e escutar um som, para esquecer a minha tristeza. Coloquei no random e começou a tocar „Samba de Orly“.

“Vai meu irmão, pega esse avião
Você tem razão de correr assim desse frio
Mas veja o meu Rio de Janeiro
Antes que um aventureiro lance mão.
Pede perdão pela duração dessa temporada
Mas não diga nada que me viu chorando
E pros da pesada diz que eu vou levando
Vá ver como é que anda aquela vida à toa
E se puder me manda uma notícia boa“

Eu chorava igual criança. Até que foi bom, pois as lágrimas quentinhas acalmavam o meu rosto congelado. Quando entrei na lojinha do feirante perto de casa, ninguém percebeu que eu estava chorando,  já que todo mundo estava com o rosto vermelho por causa do frio. Na hora de pagar, a simpática senhora perguntou-me: „Você vai para casa agora?“, eu disse: „Sim“. Ela disse: „Ótimo, pois se você não fosse, iria lhe sugerir que viesse buscar a salsinha mais tarde, para que ela não congele no caminho. Mas neste caso, vou embrulhá-la bem e vamos torcer para que não dê tempo. Fresquinha é mais gostosa!“. Eu comecei a chorar de novo.

Corri para casa o mais rápido que pude, e quando cheguei à porta, precisei tirar a luva para procurar a minha chave. Sentia como se pequenas agulhas estivessem penetrando no meus dedos e, quando finalmente achei a chave, não conseguia enconstar nela, pois estava praticamente congelada. Quando peguei o meu celular para ver as horas, o visor estava suado como uma jarra de suco na geladeira, então deixei para lá. Entrei em casa e corri para debaixo das cobertas. As crianças me viram chorando e me trouxeram chá, bolsa de água quente, deitaram comigo e me abraçaram até eu pegar no sono.

E é assim sempre, toda vez que preciso comprar um pão, ir para o trabalho, sair com os amigos. O verão brasileiro pode muitas vezes parecer insuportável, mas pelo menos é divertido. Com esta temperatura, a Alemanha parece um cemitério gigante, vazio e escuro, silencioso e deprimente, aonde se vê poucas pessoas, e estão sempre andando rapidinho, querendo estar em casa. Há meses eu não vejo um cotovelo, um pescoço, uma coxa.

Eu quero a minha casa!

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Love is Anarchy

In Brazil, as well as all other American and Latin influenced countries, matters of love and relationship are treated in a very conservative way, and the list of taboos is as huge as it can be. Those who were around me during my 6-years relationship were very critical and had a hard time understanding “how we could live like that”. My friends used to find it incredible that I didn’t know where my boyfriend was or what he was doing all the time, and just couldn’t accept the fact that he was free to look at other girls when I was around.

I have a different understanding of love. I see no sense in controlling a 30 something year-old man so that no other woman ever crosses his mind. I mean, is that even possible? Even if I do control his every step, if I make a scandal every time he checks out a girl, if I make it very clear I’m the only woman he should ever want…will it work? Well, I don’t think so. Attraction doesn’t seem to be controllable, at least not from a third person. Therefore, I wouldn’t waste my time or energy trying to fight a natural and spontaneous feeling, also because it’s not necessarily followed by an action. Besides, being free has always made him feel very comfortable in the relationship, so the desire of having someone else also tended to be smaller, and he also didn’t want to lose such a cool girlfriend 😉

Western societies are still, very unfortunately, strongly under Christian influence, and in matters of love, things couldn’t be different. We don’t have the right to be free without being judged, and we learn from our parents to judge others too. There is a strict script to be followed and one shouldn’t walk out of the line, under the threat of losing the loved one. Relationships became a symbol of oppression and things like having your own space or keeping secrets are distant dreams. Some find a way of meeting friends once a week and should be grateful for that already.

Marriages are feared and avoided, and love is losing its place to a controlled, boring system, that apparently, no one can run away from. Passion seems to be a privilege for beginnings of relationships and only remains on the minds as a nostalgic memory, giving place to responsibilities and routine. Living in Germany, I’ve came across very modern concepts of liberty and equality, mentality shared by practically all northern European countries. On the other hand, conservative Bavarians still strongly apply the sharing of male and female roles, such as we do in Brazil. This separation of roles is limiting our creativity, eliminating the challenge of doing new things and transforming us in cold robots. We stop being lovers to become providers, planners, organizers.

I’m a Love-Anarchist. When I love someone, I want this person to cross the line, break the rules, explore the unknown. As Anarchy is the lack of control and not of respect or morality, it is still important that a couple has a good communication and can understand each other’s intentions, so that no one gets hurt in the process of being happy. You need a good, clear communication in order to set your own limits, since Free Love has no limits. Here you can decide if you will be a faithful monogamous couple, a love triangle, a group or wherever your imagination and your libido take you. To be a love-anarchist you should throw your prejudice away and open your mind to the unknown.

Love with your body, mind and soul. Close your eyes and let the music of your heart-beats guide you to the best of the experiences. Allow the smell of excitement to inebriate your senses and clear your mind from the rest of the world. Enjoy the wonderful art of cuddling and listen to the deep breath, while your toes curl up and warm each other’s feet. Cook and enjoy Art together, dance, laugh, swim and sleep, and as soon as your partner wants to be alone, don’t be sad. Kiss goodbye and come back later. Love should be good and make you happy, and when it’s not, there’s something wrong. It’s supposed to be spontaneous, and not an every-weekend-fixed-appointment. It’s supposed to bring you flowers, not problems. Because, you know, when you’re in love, even problems smell like flowers.

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Milico saiu de moda, benhê

O Brasil cresce rápida e ferozmente. Depois de toda uma existência na pobreza e no anonimato, estamos hoje no topo da lista das maiores democracias mundiais, das maiores economias mundiais, das maiores orgias mundiais. Seus filhos se alimentam de conhecimento, e o poder de transformação finalmente deixou de ser privilégio da burguesia paulistana para se espalhar pelos quatro cantos do país, agregando valores culturais à nossa luta. Em meio a tanta modernidade, ainda caminham por aí algumas figuras que parecem não se encaixar neste modelo de progresso. O cortador de cana, o catador de papel, o policial militar…parecem ter fugido de alguma vitrine de museu. O caso do PM é peculiar, pois ele foi o escolhido para nos “proteger”.

Estudantes levam tiro de borracha, multidões tropeçam em seus cartazes quando dispersados por gás lacrimogêneo e, quando os milicos não conseguem encontrar nenhuma desculpa para utilizaram-se de violência, simplesmente ligam seus motores e sirenes em altura máxima para abafar a voz da verdade. A falta de sucesso desse sistema é clara, mas, ao invés de compreenderem que bombas não explodem idéias, o que fazem é aumentar a repressão, para que aqueles que se mantiveram neutros possam agora se colocar contra os ideais daquele tal protesto, que causou tanta confusão.

Os que estão na rua para garantir a “ordem” são aqueles que causam a desordem do sistema. Enquanto isso, batemos as cabeças para tentarmos entender porque é que colocam pessoas tão despreparadas para enfrentarem pessoas de nível intelectual  mais alto do que deles próprios. O diálogo entre as partes é confuso e mistificador, como se falassem idiomas diferentes e, no fim, o que prevalece é aquele que tem mais poder. E quem será este? Aquele que se arma com palavras e argumentos? Ou aquele que balança o cassetete, uma extensão de seu próprio pinto?

Que diferença tem o “Perdeu, Playboy” do ladrão para o “A casa caiu, malandragem” do milico? Tem a mesma arrogância, a mesma entonação daquele que subjuga a parte mais fraca. Muitos se tornaram criminosos porque cansaram de serem e de verem sua família e amigos serem diminuídos, calados, humilhados, e agora querem causar a mesma dor a que foram submetidos. O comportamento da nossa PM instiga a violência e institui uma relação de poder imaginária, porém, difícil de ser quebrada.

Já está na hora de acabar com a velha falácia que justifica o comportamento abusivo e corrupto da polícia ao afirmar que isso tudo é conseqüência de seus salários baixos. Se proteger as pessoas e colocar a vida em risco diariamente desse dinheiro, enfermeiros, domadores de leão, faroleiros e limpadores de janela estavam cheio da grana. E se a tiazinha que limpa os banheiros da rodoviária decidisse espalhar cocô pelas paredes, alegando que seu salário mal dá para as compras do mês, ela provavelmente seria presa ou internada em alguma instituição para doentes mentais. O salários dos PMs são mesmo muito baixos, mas a porra do país inteiro passa pelo mesmo problema! A solução então é virar bandido? Socorro!

E querem saber de uma coisa? O milico também é vítima. É escolhido pelo seu baixo nível de estudos, treinado para o ataque físico, privado de treinamento ético e moral, condicionado a acatar a qualquer tipo de ordem sem questionamento e ainda acreditar na nobreza do seu trabalho. Ao fazer esta análise é que as peças do quebra-cabeça começam a se encaixar. Mas é claro! As instituições de poder precisam dos milicos! Imaginem só se eles compreendessem que nós de fato temos o direito de protestar, e que eles provavelmente tem interesse  pela causas pelas quais lutamos? É de arrepiar os cabelos dos governantes. Tudo do que eles não precisam é de uma polícia que pensa, deixando o país sobre a constante ameaça de uma revolução a lá bolchevique. Alguma forma de repressão tem que existir, para sustentar tantas cadeiras ociosas em nosso parlamento. O truque é sujo, porém quase imperceptível: os PMs recebem ordens de seus superiores para atacarem. Quando a reclamação do povo torna-se difícil de ser ignorada, os mesmos superiores que deram as ordens escolhem algumas cobaias, de preferência aqueles que saíram em fotos e vídeos em meio a atos de violência contra inocentes, e informam à mídia que os mesmo estão sendo punidos pelos seus comportamentos abusivos, provenientes da má-interpretação das suas ordens, e serão afastados do serviço público. Dat veniam corvis, vexat censura columbas (só vão à forca os ladrões pequenos).

A era do militarismo tem que acabar. Somos inteligentes demais para este comportamento tão primitivo, tão démodé. Se você também já se deu conta de que a ditadura militar acabou há mais de 20 anos, divulgue este texto. Não pense que o que você faz não faz diferença. O poder está em suas mãos.

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Go on a cruise!

Those who read my blog have already noticed I’m never writing about stuff that are currently going on in the world. But the tragedy of Costa Concordia’s sinking has deeply affected me, so I decided to write about it.

I grew up in Santos, Brazil (city that houses the biggest port in Latin America), and have lived in front of the sea since I can remember. The coming and going of container and cruiseships are for me one of my childhood most lively memories, as you can imagine by the picture below, taken from my bedroom window.

Since my mother and my sister started working on cruiseships, my attachment got higher and higher. Now we could all see their ships coming back home, hours before it reached the shore, and listen to the incredible, and sometimes awful, stories on board.

One of these days, I saw the picture of the giant sinking “C” at the front page of a german newspaper and decided to read more about it. There were numerous accounts of people that have survived the tragedy, explaining how chaotich the rescue missions where and that the crew was trying to make things seems like they weren’t so serious. Afterwards, the writer talks about the fact that, what was known as a luxury line, was now offering cruises for surprisingly low prices, and whether this may have affected the security systems of the company.

First of all, although never having been on a sinking ship myself, I find it hard to imagine that more than 4.000 people can walk calmly to the rescue boats, as they are told to. I also can’t imagine this ever having happened before. In my imaginative head, it can only be a caotich situation. The crew is trained to contain chaos in such situations, so that the operations can flow as programmed and more people can be saved, so no wonder if they aren’t running around the ship and yelling “WE’RE GONNA DIE!”.

I don’t want to be disrespectful to the families who lost their loved ones to this tragedy, and I’m sure security specialists would find this comment extremely stupid, but I find incredible that only six people died (this number may get higher in the next days). Why would security specialists find this stupid? Because all the security systems in a ship are made for saving everybody, there should be no deaths. Besides, a ship can take hours to sink, leaving enough time for all the rescue operations to be completed. Well, at least that’s the theory. In practice, we should consider the human factors, those that no security system can prevent. The heavy sleeper that wakes up too late, the woman on the shower, that with the movement of the ship hits her head and becomes uncounscios, the drunk guy that didn’t take it seriously, the people in panic that couldn’t react fast enough, families looking for their relatives and we can’t forget those people who go back to grab their valuable belongings. I know it sounds stupid, but there’s always someone who does that. If the crew would have abandoned the ship before helping the passangers like the captain did, I’m sure there would have been hundreds, or even thousands, of deaths.

If you’ve ever been in a ship, you know that every single human being on board has to go through a safety drill right after embarking, before the ship leaves the port. In this drill, people learn how to react in such situations and how to get to their lifeboats from wherever they are (yes, everyone has a specific lifeboat, which you can find by a number on your bedroom key). Once again, this is just theory. In practice, people find the drill boring and hardly ever pay attention to it, not to mention the ones who are making jokes all the time and making the crew’s work very hard. It’s like in the airplane, when the flight attendant is showing the security proceedure and half of the people are sleeping. The other half is reading or listening to music. Well, that I can understand, I mean, what are the chances of surviving an airplane crash anyway?

With family and friends working on board, I’ve already listened to a bunch of scary stories. When people criticize the captain of Concordia for taking too long to turn on the alarms, I kept remembering those stories, and wondering what would have happened if the captains of all ships around the world always activated the alarms and evacuated the ships every time there was a hole and water coming inside. Plus all the other problems that can happen, and they do, everyday. Whether he was irresponsible or not by taking so long, it’s not for me to judge. This requires a lot of investigation and knowledge that I don’t have. The only thing I can do is to call him an asshole for having abandoned the ship, but I’m also not doing that. First of all, because I’m not really sure if he was an asshole of he just completely panicked, for being the person who could better understand the gravity of the situation. Besides, I’m also not sure whether he could have saved one of those lives if he’d stayed on board for longer, and I think there are enough people to judge him, so I’ll leave the dirty work for them.

Now, that the security of the ships have been affected by the low prices of the cruises…this doesn’t seem realistic to me. The fact that luxury items are becoming more accessible is not an isolated case of Costa, but a world phenomenon. Globalization, democratization, capitalism, growth of 3rd world countries, crisis in the world’s leading economies and many other factors are responsible for this tendency, and it doesn’t seems like it’s going to stop anytime soon. And frankly, I don’t think the cruise companies are losing money because of this, quite the opposite. Instead of having 2 or 3 luxury lines, they now have dozens of them.

I’ve always worried about the safety of my loved ones on board, but at the moment, I’m quite relaxed. I’m sure there’s a safety paranoia going on in all ships around the world, stuff being double-checked and precaution on its highest possible levels. We might be stupid sometimes, but we do learn with our – and also from other people’s – mistakes. So let’s pray that this horrible tragedy with Costa Concordia will serve as an example so that this never happens again.

Cruises are now probably safer and cheaper than ever. If I were you, I would book mine.

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Viciados em hipocrisia

Heraldo chega a casa após um dia cansativo de trabalho. Dos três projetos que entregou hoje, dois foram devolvidos para serem refeitos. Há anos ele vem trabalhando para um chefe que detesta e acha incompetente, e o fato de que o chefe também acha isso dele não torna as coisas mais fáceis. Heraldo tira os sapatos desconfortáveis, afrouxa a sua gravata, prepara um copo de uísque com duas pedras de gelo e senta-e em sua poltrona para relaxar. “Se não pudesse fazer isso todos os dias, não sobreviveria”, pensa ele enquanto sente o álcool relaxar os seus músculos, amornar o seu rosto e tornar as suas preocupações mais distantes.

Enquanto isso, a sua esposa Neusa está estirada no sofá, assistindo a novela das oito. Ela se encontra em estado de letargia mental, e só se move quando precisa esticar o braço para pegar um biscoito. Os seus maus hábitos alimentares vêm lhe deixando sem forma, sem beleza, sem energia e sem saúde, mas Neusa não consegue parar. Tudo isso tem lhe causado muitas noites de insônia, o que a levou a adquirir o hábito de tomar remédios para dormir. Além destes, ela ainda conta com um batalhão de pílulas, que ela carinhosamente chama de “salvadoras”. Dor de cabeça, azia, má circulação…ao invés de melhorar a sua dieta e acabar com os seus problemas, Neusa prefere destruir o seu corpo lentamente e maquiar os efeitos colaterais com remédios, tudo em nome dos pequenos prazeres gastronômicos. Bom, seus hábitos estão mais para pacotes de comida industrializada com cores e sabores artificiais do que prazeres gastronômicos. “Sem meus remedinhos, a minha vida seria um inferno”, pensa ela, enquanto devora um biscoito de chocolate que deixa os seus dedos brilhantes de tanta gordura hidrogenada.

Cláudio, filho mais velho do casal, acaba de chegar. Ele tem apenas 23 anos e acaba de se formar advogado. Seus esforços para ser efetivado na empresa para a qual trabalhou como estagiário nos dois últimos anos o tem levado a trabalhar cerca de 50 horas por semana, na esperança de que isso lhe abrirá portas e lhe trará experiência. Ele lida bem com a carga horária pesada, que na verdade, é até mais leve do que a maratona de festas e baladas que viveu nos anos de faculdade. A diferença é que agora ele não se diverte mais. O sono e o cansaço mental batem de uma maneira nova, mas felizmente, os seus colegas lhe apresentaram o melhor amigo do trabalhador de escritório: o café. Graças ao seu novo hábito, Cláudio pode driblar a fadiga, adquirir uma dose extra de concentração na hora de rever aquela petição e ainda serve como desculpa para fazer uma pausa, quando a monotonia do seu trabalho atinge índices insuportáveis. Trouxe também algumas novas pontadas no estômago, mas ele pode viver com isso. “Sem o meu café, não sou ninguém”, pensa ele, enquanto adiciona dois pacotinhos de açúcar em um copo de plástico, em uma preparação para a quinta dose de hoje.

Dri, a irmã do meio, está se maquiando para encontrar-se com as suas amigas. Como toda sexta-feira, elas irão ao Bardalado, aonde começa a preparação para a noite. Ela e a sua mãe acabaram de ter uma discussão, e ela faz questão de bater as portas dos armários e jogar coisas no chão para irritar a pobre Neusa. A discussão começou quando a Dri disse à sua mãe que precisava de dinheiro para comprar novos sapatos para este fim-de-semana. Neusa, que já estava perdendo o sono com os furos no orçamento da família, disse que isso estava fora de questão. Dri não se conformava com a atitude da mãe em dizer que sapatos novos não tinham nenhuma importância, e que ela já havia comprado um par algumas semanas antes. Mas e daí? Ela não entendia que o seu visual impecável era essencial para a sua vida social. Como ela faria amigos, encontraria um namorado legal ou até arrumaria um emprego se estivesse sempre com as mesmas roupas ou tivesse pele e cabelo mal cuidados? Dri se enfurecia cada vez que pensava nisso…para piorar, Neusa vinha criticando a sua mania de usar maquiagem até para ir comprar pão. “Ela é louca. Imagina se alguém me vê sem maquiagem? Não posso viver sem!”

Pedrinho estava trancado em seu quarto, como sempre. Filho mais novo de Neusa e Heraldo, é doutor em assuntos de tecnologia. Convenceu o seu pai a comprar-lhe equipamentos de última geração ao dizer que havia encontrado a sua vocação como programador e precisava agora aprender mais e praticar bastante. Entre um “trabalho” e outro, o computador acabava por ser mais usado para jogar RPG online e assistir filmes pornôs, do que para praticar a sua futura profissão. Esse comportamento introvertido acabou por causar-lhe problemas de comunicação e socialização e, até mesmo com a sua família, Pedrinho tinha pouco contato. Os pais vivam gritando com ele para ele sair de frente do computador, ir estudar e ajudar nas tarefas de casa, e os irmãos não tinham assunto com ele. “Eles não entendem nada. Ainda bem que tenho o meu computador para me distrair” pensa ele, enquanto escolhe os poderes do seu novo personagem virtual.

Pedrinho tinha um amigo da escola, o Henrique, que de vez em quando aparecia na casa dele para fazerem um trabalho, estudarem para uma prova ou jogarem vídeo-game. Neusa não deixava Pedrinho visitá-lo, pois ficou sabendo, em uma das reuniões de pais na escola, que o garoto havia sido suspenso por ter sido pego fumando maconha no banheiro. Achava que, se estivessem sob o seu teto, poderia controlá-los melhor, apesar de não sair do sofá o tempo todo em que o garoto estava lá. Neusa e Heraldo já haviam reparado que o garoto está sempre com um ar risonho e relaxado, e não gostavam nada dele. Já haviam conversado com Pedrinho para escolher outros amigos, mas Pedrinho insistia que Henrique era um garoto muito legal e que era até bem melhor do que ele na escola, mas a sua família era enfática:

Heraldo: “Meu filho! Pessoas viciadas precisam da sua droga todos os dias e não conseguem viver sem ela! Não é bom ter amigos assim, você pode acabar destruindo a sua vida!”

Neusa: “Ai Pedrinho, eu vi ontem no programa da tarde da Band que esses maconheiros não fazem nada de útil, passam o dia todos sentados no sofá e comendo. Quero um futuro melhor para você, meu filho!”

Cláudio: “É meu irmão, eu sei bem como é, tive alguns amigos assim na minha época de escola. Eles estavam sempre  brisados e não davam bola para o que os professores falavam, e não tinham interesse em construir um futuro, como eu. Uma pena.”

Dri: “Nem me fale. O irmão da Clara também fuma e é um idiota. Vive se metendo em protesto, ouve umas músicas super estranhas e tem uns amigos sujos e que usam umas roupas largas. Não vai ficar assim hein, Pedrinho. Credo!”

Pedrinho ficou confuso. Trancado em seu quarto, ele se deu conta de que a sua família era muito pior do que qualquer maconheiro que ele já conheceu. Perguntou-se porque alguns vícios são bem aceitos na sociedade, mas outros não. Refletiu sobre as origens destas proibições e decidiu pesquisar mais sobre o assunto. Passou alguns dias mergulhado no seu quarto, lendo matérias e revistas, assistindo documentários e até pesquisando nos livros de história da biblioteca da sua escola. Pedrinho ficou abismado com o que descobriu, e ficou enfurecido por ter sido alimentado com tantas mentiras e preconceitos durante toda a sua vida. Pensou em seus pais com pena, por acreditarem tão cegamente nestas autoridades falsas, atacando pessoas de bem para desviar a atenção das suas próprias vidas miseráveis e repletas de vícios atormentadores, que sugavam cada partícula de energia de seus corpos e mentes, transformando-os em zumbis, seguidores de falsos ídolos.

Pedrinho nunca mais foi o mesmo.

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Síndrome de Amélie Poulain

Neste filme de temática criativa e personagem principal nada óbvio, a atriz Audrey Tatou faz uma atuação ímpar e repleta de subjetividade. A personagem é monossilábica e introvertida, mas ainda assim, consegue levar o espectador a uma viagem pelo seu mundo, através  das suas expressões faciais e olhares penetrantes. Sou totalmente vidrada nesse filme, que apesar da fama de chick-flick, agrada a públicos variados e também é alvo constante de críticas, como toda boa obra. Mas não estou aqui para fazer uma análise crítica do roteiro ou coisa parecida, e sim, para analisar o fenômeno da identificação com a protagonista, ou melhor dizendo: A Síndrome de Amélie Poulain.

Que atire a primeira pedra aquele que nunca se sentiu como a nostálgica Amélie. Seja pelo seu isolamento na infância, pela falta de amigos, a ausência da mãe, a dificuldade de se envolver com pessoas, o estilo de vida simplório, a dificuldade para se comunicar, os hábitos estranhos, a observação das pequenas coisas, o fato de ser incompreendida, o senso de justiça, a mente engenhosa, o estilo “bonequinha”, a frieza do pai, a busca pelo sentido da vida…arrisco dizer que cerca de 98% da população mundial encontrará ao menos uma caracterísctica com a qual irá se identificar nesta complexa personagem.

Dividimos com ela a sua solidão, quando ela prepara o seu jantar ou enquanto reflete sobre a vida em sua cama milimetricamente arrumada. Sentimos pena do pobre funcionário da barraca de frutas quando ele é humilhado pelo seu chefe. Sentimos um prazer quase físico quando a Amélie entra na casa do tal chefe e faz com que ele pense que está louco. Sentimo-nos plenos quando ela faz com que a funcionária do Deux Moulain e o seu frequentador problemático se apaixonem e parem de infernizar todos a sua volta. E sentimos angústia, quando nos damos conta de que ela resolve os problemas de todos, menos os seus próprios.

A nossa mania de nos fazermos de coitados e acharmos que somos bonzinhos faz com que transformemos a pequenina francesinha em nosso alter-ego preferido (digo preferido pois creio que tenhamos diversos alter-egos). As tantas falas poéticas, a fotografia envolvente e a trilha sonora completam a obra, adquirem vida própria e levam os mais sensíveis como eu a flutuarem em uma outra dimensão, aonde todos os seus desejos são realizáveis e sentimentos tornam-se palpáveis (eu já sei que sou piegas). Num misto de nobreza e martírio, assistimos aos créditos do filme enxugando as lágrimas e pensando que está na hora de cuidarmos de nós mesmos.

A grande sacada deste filme, na minha opinião, é que a trama passa-se dentro da cabeça da personagem, trazendo o desenvolvimento dos fatos para o plano secundário, aonde a história se desenrola e desenvolve uma sequência lógica apenas para que faça algum sentido, mas que não é o objetivo do filme. Eu, particularmente, tenho pouco interesse no final do história. Esta idéia de acompanhar os fatos através da perspectiva da personagem, ao invés de apenas assistí-los como uma terceira pessoa, é o que nos faz colocarmo-nos em seu lugar. Ok, esse não é nem de longe o único filme com essa proposta. Mas de alguma forma, a linguagem criada pelo diretor é compreensível para um grupo muito maior de pessoas do que outros filmes com a mesma proposta, e tudo isso sem precisar ser óbvio.

E você, o que achou do filme? Também se identificou com a Amélie? Conte para nós!

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No pain, no gain

How would you enjoy pleasure

If you never felt pain?

If you never lose

How can you enjoy gain?

 

How could you appreciate beauty

If you didn’t know ugliness?

How could you enjoy the company of your love

If you’ve never experienced loneliness?

 

How would you feel the sun on your cheeks

If you’ve never perished on a rainy day?

How could you ever feel free

If you have never been locked away?

 

The noisy neighbor from upstairs

That with his music gives you a headache

Is the same that lends you an egg

When you are baking a chocolate cake

 

The family that makes fun of you

And sometimes acts like they’re mad

Is the same that warms up your milk

And hugs you when you’re sad

 

The wind that messes up your hair

And makes you look like a cartoon

Is the same that cools you down

On a hot and sunny afternoon

 

That sometimes things are hard

This shouldn’t make you sad

Life may not always be good

But it’s certainly not always bad

 

Life’s secret is in it’s balance

Unpredictable like the sea

Don’t expect to guess what’s coming

Or disappointed you will be!

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